Prancheta - O dia em que o Laerte me libertou.

Vendo essa foto do desenho colado no caderninho de esboços me lembrei que, quando mais jovem, eu pensava que os trabalhos publicados eram iguais os originais: impecáveis! Aquele traço de pincel certinho, sem nenhuma margem para erro, verdadeiros "deuses" da profissão os que tinham alcançado aquele lugar no panteão dos desenhistas.

Um dia resolvi ir ao primeiro FIQ. Foi uma loucura insana o que fiz! Nunca mais fui o mesmo. Foi lá que consegui a minha libertação do desenho certinho, redondinho...

Bem, na verdade, entendo porque muitos aclamam o Laerte como um deus: foi ele quem me libertou. Ou melhor, o trabalho dele.

Eu, cartunistinha bôbo de 16/17 anos, peguei o busão e fui parar em Belo Horizonte. Quando cheguei lá, fui salivando ver a exposição do Angeli e do Laerte, de quem sempre fui fã. Sai correndo pelos corredores como quem vai ter uma "iluminação" celestial, e foi quando bati de frente com as HQs do Laerte. PQP!!!! Quase morri! O Laerte e o Angeli também erravam!!! Não é possível!!! As páginas do Laerte que estavam lá eram cheias de remendo e uma lambança de guache branco e recorte de figuras coladas em cima dos quadrinhos que eu fiquei meia-hora na frente das páginas dos Piratas do Tietê tentando recobrar minha consciência. Como eu era bôbo.

Foi uma libertação. 

Antes, eu copiava desenhos dele nas Piratas pra aprender "como é que esse cara faz???". Eu achava que o desenho era todinho certinho e sem nenhuma margem para o erro. Ledo engano. Graças a Deus (que desenha certo por linhas tortas!) eu não teria mais que fazer aqueles desenhos impecáveis, poderia ser mais lambão no meu trabalho e deixar o traço correr mais solto. 

O problema, daí pra frente, foi que para cada folha que gastava com uma página de HQ, gastava cinco só para remendar as porquêra!

Grande Abraço!

Rico.