19 de fev. de 2015

Cara, como é que vc faz esses desenhos?




Mais ou menos assim...
Durante meus primeiros 10 anos de vida meu pai foi guarda de uma agência do Banco Nacional.
O sonho dele era ser um militar ou ser “um Polícia”, como ele enchia o peito e gostava de dizer, impostando a voz. Infelizmente, seu grau de estudo não o permitiu e ele projetou seu sonho neste camarada aqui que vos escreve. Eu sou o primogênito. Coisas de pais: querem realizar seus sonhos nos filhos. Isso nunca dá certo - para a infelicidade de um ou de outro.
Eu cresci, literalmente, em um regime militar dentro de casa. Camisa pra dentro da calça, roupas limpinhas, sem nenhum pingo de sujeira, tênis limpinho e muito “Sim, senhor. Não, senhor”. A Havaianas e o corrião comiam soltos ao menor sinal de rebeldia. Falou palavrão? Pimenta malagueta na língua. Fez malcriação? De joelhos no caroço de milho. Sinceramente, eu não sei como eu não me tornei o Rambo com um “treinamento” desses... rsrsrs
Só que para o azar de meu pai, eu nasci artista e artistas e regras são um paradoxo. Dizem que existe, mas, devem ser raros. Realmente estas coisas escolhem a gente e não o contrário. O contrário resulta na mediocridade.
Eu nunca fui um artista “porralôca”, mas também nunca fui um completo “santinho”. Convivi com muitos amigos mutcholôcos e aprendi muito com eles, porque quebravam todas as regras que foram implantadas na minha mente quando eu ainda era uma criança ou um adolescente.
Eu nunca me encaixei nessa miséria existencial de achar que o mundo é ruim por completo e “todos contra mim e eu contra o resto do mundo”. Sempre achei esse papo muito adolescente e sempre é mais fácil sentar e reclamar do que fazer alguma coisa a respeito para mudar as coisas. Sempre procurei superar todas as adversidades que “brotavam” na minha frente (e não foram poucas!) e usar o meu desenho pra tentar melhorar as coisas. Reparem que, nas charges, mesmo quando carrego na ironia, estou tentando “plantar” alguma coisa de bom na cabeça dos meus leitores, no sentido de despertá-los. O desenho é uma ferramenta espetacular para a comunicação, ensino e aprendizado, basta o seu dono saber usá-lo.

Eu aprendi o meu ofício, observando, lendo, colocando a minha visão das coisas nele e perguntando (muito!). Todos os caras que eu admiro já receberam um email meu perguntando alguma coisa sobre a minha profissão. Imaginem: estando eu longe de um grande centro, não há outra forma de aprender que não seja perguntando. “Quem tem boca vai a Roma”, não é mesmo? E eu pergunto mesmo! E sempre tive as respostas.
A primeira grande resposta que tive foi quando o Cláudio Paiva – pra quem eu ainda pago pau, lêras - trabalhava no Jornal do Brasil, nos idos de 1997/98. Eu nem sabia quem era ele ou o que tinha feito antes de ser chargista do JB. Eu lia a charge dele todos os dias, desde 1994, se não me falha a memória, no silk-screen onde eu trabalhava, porque o meu patrão assinava o jornal. Uns 3 anos depois tomei coragem - a internet acabara de chegar em minha cidade – e mandei um email pra ele, pedindo que olhasse meus desenhos e me desse alguma dica. Ele foi muito legal e me respondeu: “Suas piadas precisam ser mais diretas, mais rápidas”.
Eu quase explodi de tanta alegria com a resposta. Foi uma dica e tanto! Parece óbvio mas, às vezes, a resposta está na nossa cara e a gente não vê. Precisamos que alguém nos mostre. Desde então, sempre que podia, mandava emails para os caras que eu admirava, pedindo dicas. A maior parte deles me respondeu e todas as dicas me foram muito úteis.
Todo artista que admiramos um dia começou do nada e perguntar é uma forma de aprender. Há muitas histórias de aprendizes que se tornaram mestres e a vida tem suas reviravoltas, não é mesmo?
Por conta disso, sempre que posso, nao deixo de responder aos novatos que me escrevem. Sabe-se lá se estou diante de um futuro mestre?

Um abração procêis!
Rico.



3 comentários:

  1. Nossa, que texto inspirador! Estamos sempre aprendendo e ensinando, não é mesmo? Penso que conhecimento deve ser compartilhado ao maximo, só assim criaremos um espirito de cooperação ao invés da competição. Gosto muito dos seus desenhos Rico, e obrigado por compartilhar sua historia! Um abração!
    Lucas Busatto.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. É isso aí, Lucas. Vamo que vamo!
    Abração

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