Livros.
No último fim de semana, resolvi dar uma olhada na minha
biblioteca do estúdio. Fiquei tão feliz ao descobrir que minha vida está, em parte,
dentro dela.
Há cartas e bilhetes que minha esposa me escreve
desde que nos conhecemos; desenhos de meus filhos, desde os primeiros rabiscos
(quem me dera se meus pais tivessem feito isso); originais e mais originais que
ganhei dos meus amigos cartunistas e ilustradores durante anos e ainda os
livros que ganhei de presente.
Foi gostoso rever livros, como este do Cárcamo. Eu adoro
esse livro “Modelo Vivo Natureza Morta”. Houve uma época em que ele estava
sempre à mão, em cima da minha prancheta. Todas as vezes em que o folheio, me vem aquela mesma sensação
gostosa de quando ele chegou há 10 anos. Os desenhos pintados a aquarela são
cada um mais bonito que do que outro. Adoro os tons, as árvores, as pedras e o
sentimento que ele me passa. A cena da exposição do artista com Henri de
Toulouse-Lautrec, Vicent Van Gogh, Rembrandt, é simplesmente demais! A história
é de uma carga emocional linda.
Tudo isso guardado em um lugar que considero o meu coração
fora do peito. Foi gostoso também rever livros que comprei quando ainda era um
adolescente.
Lembro-me agora que em minha cidade custou a chegar uma
Livraria. Então, para comprar livros ou era por reembolso postal ou ir á
capital, Belo Horizonte. A segunda opção era muito interessante, uma vez que moro
a 300 km de lá.
Era um suplício pintar duzentas mil faixas de letreiros (que
eu detestava!), juntar o dinheiro e ir até lá, perambular pelas livrarias.
Perambular pelas livrarias é que era gostoso e fazia valer o
sacrifício. Confesso que quando as portas iam se fechando, batia uma sentimento
ruim de ter que abandonar aquele lugar mágico e que eu considerava o melhor
lugar do mundo. Hoje entendo o porquê de eu valorizar coisas que são tão comum
aos outros: eu não as tinha. Imagine, ter que viajar 300 km de ônibus pra
entrar numa livraria e desfrutar daquele ambiente gostoso. Entrar em uma
livraria hoje tornou-se uma coisa quase banal. É só ri lá e pronto. Está ao
nosso alcance.
A falta de recursos é uma desvantagem imensa na vida de um
artista. Tem que se amar MUITO o que faz para seguir adiante.
Um dos livros que tenho aqui e que foi comprado a duras
economias, é o “Caras Pintadas” do Edgar Vasques e o “Caricaturas de Gente
Famosa”, uma coletânea organizada pelo grupo Coquetel, que comprei aos 14 anos
de idade. O segundo livro levou uma eternidade para chegar. Comprei pelo
reembolso postal e vocês não imaginam como os Correios eram lentos naquela
época. Vocês não imaginam as coisas que deixei de fazer para ter livros.
Comprar roupas e sair com os amigos, por exemplo. Uma camisa, pra mim naquela
época, tinha que durar até o fim dos tempos ou necadepitibiriba de livros.
Hoje, tenho total desapego por roupas. Resquícios.
Hoje as coisas são mais fáceis. É só olhar o livro que
quero, pela internet, comprar e ele chaga aqui em poucos dias. A vida melhorou
muito desde aqueles tempos.
Quando bate esses meus momentos nostalgia, sempre lembro-me
de uma frase que me disseram há muitos anos: “Memória é ouro”.
E é mesmo.
Abração procêis!
Rico
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