5 de jan. de 2016

Vovô Supimpa!



           Essa noite sonhei com meu avô materno. Ele se foi quando eu tinha dezesseis anos de idade.

            Era um velhinho de olhar doce, bondoso e que não incomodava a ninguém.  Um senhor alto, branco, nem gordo nem magro, cabelos brancos e olhos azuis. Era o segundo casamento de minha avó Celina, que havia sido deixada pelo primeiro marido quando ainda era uma jovem menina. Naqueles tempos se casavam muito jovens, principalmente as mulheres. Essa minha avó é aquela que eu disse em outro texto que sempre dizia "quando as coisas estão muito ruins, é porque está perto de melhorar", lembram?
            Ele era sapateiro quando jovem. Uma profissão em extinção, imagino.
Não cheguei a vê-lo trabalhar, porque quando eu era criança ele já era aposentado e já tinha aquela carinha de velhinho gentil. Não me recordo de sua aparência jovem.
            Quando eu era criança entrava no quarto do tio Geraldo, irmão da minha mãe, pra desenhar. Meu avô chegava e perguntava: "O que cê tá fazendo aí, menino?". "Tou desenhando o Homem-Aranha, vô!". "Ah, tá ficando bonitinho". Daí eu ficava todo feliz porque meu avô viu que eu era um desenhista. 
            Quase todos os dias minha mãe nos levava pra passear na casa da minha avó. Meu pai trabalhava de guarda do Banco Nacional, que ficava no meio do caminho e depois do expediente ele ia nos buscar lá.
            Meu tio Geraldo foi quem primeiro viu que meu negócio era o desenho. Ele era servente de pedreiro e quando recebia seu salário comprava umas revistinhas dos "Heróis da TV" e me dava de presente. Eu adorava!
            Domingo, que era quando se reunia toda a família para o almoço na casa da vó Celina, meu tio vinha com a revistinha pra me dar. Mas, antes ele mostrava um desenho do Homem de Ferro que ele tinha feito. Eu ficava impressionado! Hoje sei que ele "tirava" o desenho - copiar colocando a folha sobre o desenho original, saca? Mas na época, eu pensava "Uau!! Meu tio também é desenhista!!"e ficava colado nele.
            Uma coisa legal que só agora que estou escrevendo esse texto me dei conta é o sobrenome do Vô Luiz: Supimpa. Isso mesmo, seu nome era Luiz Supimpa! Não é demais?!! Se eu tivesse tido essa sacada antes, ao invés de "Rico", assinaria "Supimpa". Não é uma sacada legal um cartunista que assina Supimpa? Eu acho que sim.
            No meu sonho tivemos uma boa conversa, eu disse que o amava e ele chorou de alegria.
            Só vi meu avô chorar duas vezes na vida: quando meu tio Geraldo se foi e depois a minha Vó Celina.
Eu era uma criança de uns sete anos de idade e foram as coisas mais tristes que eu havia visto na minha vida até ali. Pra mim, só morriam pessoas que não eram da minha família.
            Ainda no sonho, falei com ele que tomasse conta das vistas, porque já estava velhinho e ele disse pra que eu não me preocupasse, ele não precisava mais.
            Quando estava ainda conosco não me lembro de ter dito a ele que o amava. Hoje percebo o quanto é importante para nós e para os outros um simples "eu te amo". Às vezes a gente diz no olhar, com um carinho, mas raramente com as palavras. Às vezes, até por vergonha, timidez, sei lá. "Eu sou durão e caras como eu não dizem essas coisas". Bobagem. E depois, fica só a saudade e o arrependimento de não ter dito essas três palavrinhas que fazem tão bem ao coração e aquietam as tempestades da alma.
            Pode parecer piegas, mas, não perca as oportunidades de dizer o que sente a quem você ama. O amanhã pode não chegar.
            Vai lá!

-Rico



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